sábado, 4 de outubro de 2014

O GULA.

É de noite.
O inocente azul bebê do céu agora
se torna um preto impuro.
Você não queria estar aqui, a
simpatia dessas ruas morreram
junto o pôr do sol e agora você vai
caminhar sozinho.
Uma dose de medo desliza para
sua garganta quando você percebe
que tem companhia. Passos, o som
de passos vindo de trás de você,
você tem certeza que ninguém
estava lá antes, ele devia estar te
esperando.
Apenas dez minutos ou menos até
você chegar ao seu ponto de
ônibus, você sabe que está com
medo, mas certamente ciente de
sua própria curiosidade. O som dos
passos ainda perturba mais você.
Você esta com um desconhecido,
você sabe que não devia sentir
medo, mas senti. Há alguém atrás
de você que esta te observando
caminhas por uns bons minutos,
você não desviou nenhum olhar
para ele.
Seu medo e curiosidade batalham
um com o outro, os passos quase
se tornam inaudíveis com o som de
sua própria voz brigando consigo
mesmo em sua cabeça. Você quer
olhar, mas está com medo. O que
está atrás de você? Ele esta te
seguindo? Você vai parecer um
idiota medroso se der uma olhada
para trás? Você parou para amarrar
seu cadarço já amarrado. Você
finge tropeçar e por um segundo
da uma olhada para trás e volta ao
normal.
É um homem. Um homem muito
gordo, careca, vestido uma jaqueta
de couro que parece um pouco
apertada, você não tem uma
grande descrição com a curta
olhada, mas o suficiente para
sentir-se estranhamente mais
calmo. Sua aparência, embora não
seja a mais comum, não parece ter
nada de tão desagradável nele. É
apenas uma pessoa normal, talvez
a caminho do mesmo ponto de
ônibus que você. Uma coisa que se
destacou em sua breve olhada era
que ele estava usando um par de
óculos de sol.
A única luz que iluminava era a
luz do luar. Você tenta minimizar a
situação com pensamentos
agradáveis, embora sua mente
começa a questionar a falta de
energia dos postes de luz que
deveriam estar funcionando. O som
dos passos fica mais alto e mais
frequente. Ele esta acelerando.
Você tenta andar no mesmo ritmo
de seus passos para garantir que
ele não vai alcança-lo; você se
mantém lembrando-se que não é
uma caminhada muito longa até
chegar no ponto de ônibus, talvez
alguém vai estar lá? Você continua
a se questionar quais planos ruins
que este homem poderia trazer e
você até se sente culpado por fazer
tais suposições dele. Ele é apenas
uma pessoa comum. Você começa a
perceber um som ofegante, ele
deve estar ficando cansado. Seu
físico não parece o mais atlético.
Sua culpa cresce junto com o
resseguro de inocência deste
homem.
Sua respiração ofegante cresce
junto com uma tosse, é uma tosse
forte que soa como a de um
fumante, mas certamente não soa
como algo não humano. Você se
sente ridículo po pensar em um
termo de “não humano”, você está
tão assustado quanto antes, você
esperava ouvir um som de animal
saindo da boca dele? Estes
sentimentos de culpa e vergonha
quer fazer você se virar, enfrentá-lo
e pedir desculpas, mesmo que ele
não vai ao menos ter ideia do que
você esta falando. É uma sensação
como se fosse a coisa certa para se
fazer, você sabe que é obscuro
confrontar uma pessoa com tais
confissões desnecessárias.
Sua respiração ofegante cresce com
outra tosse, uma tosse mais forte
da ultima vez.
Ele começa a fazer barulho, seus
passos soam mais como um
tropeço, está é sua chance. Você
decide se virar para ver se esta
tudo bem com ele, ver se você
pode ajudá-lo.
Você se vira, cheio de confiança,
até que seus olhos se encontram
com o rosto do homem. Seu lábios
cobertos de uma saliva escura
quando sua boca se abre, essa
boca é diferente de qualquer outra
que você já viu antes, ele parece
ter fileiras de dentes desordenados
dentro. Sua boca se mantém
aberta; ele mantém aberta até que
ele começa a se parecer mais como
qualquer outra coisa do que um
ser humano. Sua mandíbula se
abre como a de uma cobra,
distraído com a boca dele você não
tinha notado as mudanças em seu
corpo. O paletó está abrindo, você
percebe os ossos e articulações
servindo como uma estrutura para
sua jaqueta, isso não é uma peça
de roupa, é a sua própria pele. Os
ossos de sua coluna vertebral se
torcem enquanto seu corpo se
abre, você pode ver sua caixa
torácica fazendo o mesmo. Seus
ossos crescem quando foram
expostos; você vê algo se mover
dentro dele. Você corre.
A criatura te segue, quando você
tenta correr contra o vento que
esta soprando no seu rosto, você
percebe o som de estalos de ossos.
Você não olha para trás para ver a
nova forma desta criatura, não por
não ver o caminho a sua frente,
mas você não deseja mais ver algo
tão horripilante quanto aquilo.
Você aperta os dentes enquanto o
vento tenta fundi-lo de volta em
sua direção; ao virar a esquina
você estará a poucos metros do
ponto de ônibus. Você diz a si
mesmo que o ônibus estará lá,
você vai ser capaz de entrar e ir
embora com segurança. Você ouve
a criatura atrás de você e você
toma um gole grande de
adrenalina e vira a esquina.
O ônibus está lá, na hora certa de
todo os dias, você pode facilmente
entrar e pedir para acelerar na
direção oposta daquela coisa. Com
um sorriso de alivio no rosto você
corre para a porta do ônibus. A
porta está fechada e você se lança
num estrondo sobre ela, gritando
para que o motorista abra, você
percebe que o motorista é o único
a bordo. Você tem sua atenção,
mas percebe o rosto dele reagindo
mal ao seu medo. Quase como se
este pesadelo fosse uma ocorrência
diária.
Você se vira para a criatura para
indicá-lo ao motorista, ele não deve
ter notado, ele deve pensar que
você está bêbado. Quando você
enfrenta a criatura, você percebe
seu corpo de gordura é na
verdade composta de uma dúzia de
braços ossudos dentro de seu
peito; Ele esta usando-os como
uma aranha usa suas pernas. O
que parecia ser o rosto de um
homem foi dobrado para trás,
expondo a própria aranha como o
corpo da criatura. Você
rapidamente volta atenção ao
motorista; ele deve deixá-lo entrar
agora. A última coisa que você vê
é um rosto todo deformado de um
mostro avançando com a boca para
devora-lo.
- Ele se alimentou noite passada?
- Sim, acho que foi o suficiente por
uma semana ou algo assim.
Dois homens estavam sentado em
um banco na movimentada rua da
cidade, cheio de pessoas
aproveitando o dia de sol. Ambos
os homens usavam camisas azuis
com um chachá do lado, um
uniforme de motorista de ônibus.
- E fez muita sujeira?
- Não, não restou nada para se
limpar, ele o devorou por completo,
ja consegui plantar evidência para
que um criminoso responda pelo
desaparecimento dele.
A dupla ficou lá, olhando para a
rua, de vez em quando olhando
para baixo em um beco.
Ao lado do beco, eles podiam ver
apenas uma cara gordo, careca,
com um óculos de sol. Ele
observava as pessoas passarem,
apenas esperando o pôr do sol...

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